[vc_row][vc_column width=”1\/1″][vc_empty_space empty_h=”1″][vc_custom_heading heading_semantic=”p” text_size=”” text_font=”font-139983″ text_weight=”800″ text_color=”color-jevc” sub_reduced=”yes”]<\/p>\n

Pensamento conservador ganha for\u00e7a e d\u00e1 as caras no mundo<\/h1>\n

[\/vc_custom_heading][vc_custom_heading heading_semantic=”h4″ text_size=”h4″ text_font=”font-157049″ text_weight=”400″ text_italic=”yes” separator=”yes” separator_color=”yes” sub_reduced=”yes”]O pensamento conservador est\u00e1 a todo vapor pelo mundo e o custo pode ser alto[\/vc_custom_heading][vc_column_text]Por Rafael Mendon\u00e7a<\/span><\/em><\/p>\n

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Mat\u00e9ria publicada no especial Caminhos da Esquerda, de Caros Amigos<\/span><\/a><\/p>\n

A hist\u00f3ria da humanidade \u00e9 marcada por momentos dos mais terr\u00edveis, de todo tipo de abuso contra minorias, mesmo quando as minorias eram maiorias. Durante a hist\u00f3ria moderna foram diversas lutas encampadas e grandes guerras feitas pelo homem com o mote da defesa da liberdade. Mesmo que essa liberdade estivesse quase sempre embalada para esconder outros motivos, era a tal liberdade o carro-chefe das nobres causas. Com o \ufb01m da Segunda Guerra os interesses em transformar o mundo em um lugar que respeitasse mais o ser humano, independente de suas convic\u00e7\u00f5es, se intensi\ufb01caram, se tornaram \u201co\ufb01ciais\u201d para os Estados, que at\u00e9 alguns anos antes tinham no imp\u00e9rio brit\u00e2nico e os cavalos do ex\u00e9rcito alem\u00e3o como refer\u00eancia. Criou-se em 1948 a Declara\u00e7\u00e3o dos Direitos Universais. O que foram as revoltas por melhores condi\u00e7\u00f5es de trabalho durante a Revolu\u00e7\u00e3o Industrial, o que eram as batalhas das sufragistas na virada do s\u00e9culo 19 para o 20, se tornaram pensamento e in\ufb02u\u00eancia para toda uma gera\u00e7\u00e3o. Pensadores, ativistas e verdadeiros guerreiros, especialmente no dito mundo Ocidental, entraram em cena para que negros, mulheres e todas as minorias pudessem, ao menos em teoria, viver em um mundo mais igualit\u00e1rio.<\/span><\/p>\n

Passamos pelo que chamamos de revolu\u00e7\u00e3o dos direitos civis nos EUA, pelas d\u00e9cadas de 1960 e 1970 e, de certa forma, as coisas foram evoluindo. Resolvidas nunca. E \u00e9 a\u00ed que come\u00e7amos a pensar onde foi que erramos enquanto sociedade? Onde perdemos a m\u00e3o e essa virada ao conservadorismo se tornou algo que antes estava como uma pulga atr\u00e1s da orelha e hoje \u00e9 algo palp\u00e1vel, bem mais denso e pior que muito nevoeiro.<\/span><\/p>\n

Na madrugada do dia 9 de novembro de 2016 o mundo assistiu at\u00f4nito a virada do candidato Donald Trump para cima da favorit\u00edssima Hillary Clinton. Com seu discurso de cowboy do s\u00e9culo 19 arrebatou estados chave na intrincada elei\u00e7\u00e3o estadunidense e se tornou o 45\u00ba presidente do primo rico do norte. Sua elei\u00e7\u00e3o teve efeitos imediatos. Foi como se abrissem as portas do hosp\u00edcio e toda a sorte de preconceituosos e fan\u00e1ticos em geral sa\u00edssem \u00e0s ruas. Nas redes sociais foram demonstra\u00e7\u00f5es e mais demonstra\u00e7\u00f5es desse comportamento.\u00a0<\/span><\/p>\n

Aqui no Brasil n\u00e3o \ufb01camos atr\u00e1s: basta observar dois aspectos. Um \u00e9 a forma como sempre foram tratados negros, pobres, LGBTs pelo poder vigente e a sociedade. Viol\u00eancia policial e a forma como boa parte de nossa elite trata seus empregados, principalmente dom\u00e9sticos, por exemplo, deixam isso bem evidente. A outra s\u00e3o movimentos organizados que at\u00e9 os anos 2000 \ufb01cavam relegados \u00e0 margem da sociedade e nos anos seguintes tiveram muito crescimento. As facilidades de comunica\u00e7\u00e3o com a populariza\u00e7\u00e3o da internet, facilitadores, inclusive, na pr\u00f3pria divulga\u00e7\u00e3o da esquerda, s\u00e3o alguns dos v\u00e1rios fatores que ajudaram a dissemina\u00e7\u00e3o de ideias conservadoras por aqui.<\/span><\/p>\n

A conversa \u00e9 ampla e a onda conservadora \u00e9 um fen\u00f4meno mundial, mas que apresenta articularidades que tornam quase imposs\u00edveis uma generaliza\u00e7\u00e3o. S\u00e3o centenas de maripozinhas girando em volta de uma l\u00e2mpada reacion\u00e1ria. \u201cEstamos assistindo um processo de fortalecimento do pensamento conservador, ou do pensamento ultraconservador. A gente v\u00ea uma radicaliza\u00e7\u00e3o do processo, que tem diferentes causas. Por exemplo, na \u00c1ustria, com boa renda per capita, estabilidade econ\u00f4mica completa, ainda assim vemos um movimento de extrema-direita, mais ligado ao risco da Uni\u00e3o Europeia, \u00e0 imigra\u00e7\u00e3o e a uma vis\u00e3o de uma sociedade bastante homog\u00eanea. No Brasil temos uma sociedade com s\u00e9rios problemas econ\u00f4micos e pol\u00edticos, mas o ponto de intersec\u00e7\u00e3o seriam os setores sociais que se veem amea\u00e7ados por essas mudan\u00e7as progressistas e que optam por projetos pol\u00edticos conservadores\u201d, a\ufb01rma Leonardo Avritzer, professor titular do departamento de ci\u00eancia pol\u00edtica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).<\/span><\/p>\n

Se antes da crise de 2008 o mundo vivia, de certa forma, em uma era de bonan\u00e7a econ\u00f4mica \u2014 em que os ricos \ufb01cavam mais ricos e no qual sobrava uma beirada para a classe m\u00e9dia mundial \u2014, quando a bolha estourou, o que restou foram as contas e a mis\u00e9ria para a popula\u00e7\u00e3o da classe m\u00e9dia para baixo pagar, e conviver. O deputado Paulo Teixeira, do PT de S\u00e3o Paulo, explica. \u201cA crise de 2008 nos EUA foi a crise da desregulamenta\u00e7\u00e3o do capital, mas na hora de pagar a crise n\u00e3o foram os ricos que pagaram, foram os pobres. Foram 60 milh\u00f5es de empregos no mundo que sumiram. E os ricos n\u00e3o s\u00f3 n\u00e3o pagaram, como \ufb01caram mais ricos\u201d, a\ufb01rma.<\/span><\/p>\n

Um cen\u00e1rio de crise \u00e9 o ambiente perfeito para que a frustra\u00e7\u00e3o germine. Ainda que no Brasil a coisa tenha demorado um pouco para degringolar, a crise tamb\u00e9m veio. Mas no resto do mundo foi como um tsunami. E isso engrossou um caldo que nunca deixou de existir. Com a fal\u00eancia econ\u00f4mica, a insatisfa\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o tem que ser canalizada para algum lugar. Se na Espanha e Gr\u00e9cia isso resultou na cria\u00e7\u00e3o do Podemos e do Syriza, respectivamente, em um movimento contr\u00e1rio ao crescimento conservador, no leste europeu e Fran\u00e7a, por exemplo, resultou em um crescimento dos movimentos e partidos de extrema-direita. Cada um com suas particularidades. Problemas econ\u00f4micos, refugiados, imigrantes e terrorismo, \ufb01zeram parte do pacote europeu.<\/span><\/p>\n

\u201cO sistema globalizado, a sua institucionalidade da democracia tradicional, est\u00e1 muito questionado, ele n\u00e3o incorpora as insatisfa\u00e7\u00f5es da popula\u00e7\u00e3o de muitos pa\u00edses. Vai se distanciando das popula\u00e7\u00f5es que est\u00e3o nas franjas mais marginalizadas do mundo globalizado e se comunica a um sentimento conservador de alguns segmentos da sociedade que con\ufb02 ui a um tribalismo retr\u00f3grado\u201d, a\ufb01rma o deputado Chico Alencar do PSol do Rio de Janeiro.<\/span><\/p>\n

Esse caldo de insatisfa\u00e7\u00e3o fez \ufb02orescer uma gama enorme de pol\u00edticos de direita que galgaram seus lugares nos parlamentos europeus. Criando uma resposta a todos os movimentos de inclus\u00e3o social, esse \u00e9 um ponto de converg\u00eancia para v\u00e1rios pa\u00edses que assistem a essa onda. \u201cSe os movimentos progressistas est\u00e3o se empoderando, no mundo inteiro se fortalecem, eu me fecho no meu c\u00edrculo da sociedade do espet\u00e1culo e das manifesta\u00e7\u00f5es personalistas perform\u00e1ticas\u201d, explica Chico Alencar.<\/span><\/p>\n

O Trump \u00e9 fruto disso, dentro das peculiaridades estadunidenses. Uma na\u00e7\u00e3o que s\u00f3 na virada de 2008 para 2009 perdeu 2,6 milh\u00f5es de empregos e com tantas diferen\u00e7as com suas costas progressistas e sua Am\u00e9rica profunda. \u201cAcredito que a falta de oportunidade criou os non-college-educated whites (homens brancos sem educa\u00e7\u00e3o superior), enquanto os EUA tiveram uma forte base industrial, especialmente na regi\u00e3o dos Grandes Lagos. Essa turma, apesar de n\u00e3o ter faculdade, sempre foram fortemente inclu\u00eddos pela economia americana, principalmente automobil\u00edstica. E existe uma segmenta\u00e7\u00e3o nos EUA muito importante que \u00e9 entre as pessoas com alto n\u00edvel de escolaridade \u2014 que est\u00e3o principalmente nas grandes cidades e que est\u00e3o acostumados com a diversidade \u2014, e uma popula\u00e7\u00e3o rural muito forte e conservadora\u201d, a\ufb01rma Avritzer.<\/span><\/p>\n

Quintal<\/span><\/p>\n

Na Am\u00e9rica Latina a coisa se torna ainda mais complexa e, por que n\u00e3o, esdr\u00faxula. Com um pouco de conhecimento hist\u00f3rico sabemos que aqui sempre\u00a0foi considerado pelo \u201ccoirm\u00e3o\u201d do norte como seu quintal. S\u00e3o tantas e tantas inger\u00eancias que nem com a libera\u00e7\u00e3o dos documentos da Ag\u00eancia Central de Intelig\u00eancia estadunidense, a CIA, conseguimos ter a real dimens\u00e3o do tamanho das a\u00e7\u00f5es j\u00e1 realizadas. Mas o que aconteceu, provavelmente durante um per\u00edodo de distra\u00e7\u00e3o do governo Bush? V\u00e1rios pa\u00edses elegeram governos progressistas no per\u00edodo. Hugo Ch\u00e1ves, Evo Morales, Rafael Correa, Mujica, Cristina Kirchner, Bachelet e, claro, Lula, vieram nessa safra. Mas coincidentemente com a volta de um democrata ao governo estadunidense a coisa come\u00e7ou a escorrer pelos dedos. \u201cAp\u00f3s quase duas d\u00e9cadas de mudan\u00e7as, o cen\u00e1rio parece inclinar-se novamente na dire\u00e7\u00e3o oposta: h\u00e1 evidentes sinais de esgotamento do \u2018consenso nacional popular\u2019 que vingou at\u00e9 pouco tempo e o p\u00eandulo latino-americano agora, inclina-se, novamente, na dire\u00e7\u00e3o conservadora. Este movimento conta tamb\u00e9m com importante apoio da popula\u00e7\u00e3o, raz\u00e3o pela qual os processos eleitorais, que at\u00e9 bem pouco tempo apenas con\ufb01 rmavam a posi\u00e7\u00e3o soberana da \u2018esquerda\u2019, expressam a emerg\u00eancia de governos conservadores mais ou menos a\ufb01 nados com o antigo ide\u00e1rio neoliberal\u201d, a\ufb01 rma Eliane Tavares em seu texto na apresenta\u00e7\u00e3o das Jornadas Bolivarianas, realizadas em abril na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).<\/span><\/p>\n

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Cada pa\u00eds tem suas particularidades e, portanto, \u00e9 imposs\u00edvel fazer uma leitura \u00fanica e coesa sobre como as coisas foram acontecendo. H\u00e1 uns anos, a Ag\u00eancia P\u00fablica publicou uma mat\u00e9ria sobre uma empresa s\u00e9rvia que fora contratada para desestabilizar o ent\u00e3o governo Chavez, aqui no Brasil estamos vendo o processo de expurgo de qualquer ideia mais progressista. Isso sem falar na entrega de riquezas j\u00e1 consolidadas, o pr\u00e9-sal brasileiro, e as que ainda est\u00e3o na al\u00e7a de mira, g\u00e1s boliviano, petr\u00f3leo venezuelano etc. De certa forma todos esses pa\u00edses passam por momentos de instabilidade. Mesmo que a Venezuela seja um cen\u00e1rio muito mais complexo. E a Argentina tamb\u00e9m \u00e9 um caso \u00e0 parte, pois l\u00e1 a mudan\u00e7a de rumo foi feita pelo voto. Depois de anos de campanha pesada nos meios de comunica\u00e7\u00e3o contra a gest\u00e3o de Cristina Kirchner e de s\u00e9rios problemas na economia, foi eleito, em 2015, o ultraneoliberal Mauricio Macri. E l\u00e1, como aqui, o \u201cgestor\u201d n\u00e3o teve nenhum pudor ou parcim\u00f4nia de destruir direitos e aumentar o arrocho nas classes mais pobres, causando efeitos dr\u00e1sticos no pa\u00eds.<\/span><\/p>\n

\u201cA Am\u00e9rica Latina se move em bloco. H\u00e1 s\u00e9culos fornece demonstra\u00e7\u00f5es cabais disso, a despeito das in\u00fameras especi\ufb01 cidades de uma regi\u00e3o t\u00e3o rica e diversa. A elei\u00e7\u00e3o de Macri, em 2015, parece ter aberto caminho para o deslocamento, a partir da Argentina, de uma hegemonia da esquerda, ou centro-esquerda, no continente sul-americano, para o estabelecimento de governos fortemente identi\ufb01 cados com os campos da direita. A ascens\u00e3o de Temer \u00e9 decisiva nesse sentido, devido ao papel que o Brasil desempenha frente aos vizinhos. Isso s\u00f3 foi poss\u00edvel, dentre outros fatores, gra\u00e7as a uma forte alian\u00e7a entre a direita de orienta\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica neoliberal com conservadores de toda esp\u00e9cie, saudosos dos regimes militares e neopentecostais, por exemplo num cen\u00e1rio de crise econ\u00f4mica, aumento do desemprego e descren\u00e7a nas institui\u00e7\u00f5es, a direita surge como uma alternativa que se vende como t\u00e9cnica na economia, mas, ao mesmo tempo, guardi\u00e3 de valores atacados pela esquerda. N\u00e3o deixa de ser sintom\u00e1tica a campanha pelo \u2018No\u2019 na Col\u00f4mbia ter se apropriado at\u00e9 de elementos que dizem respeito \u00e0 identidade, que n\u00e3o por acaso chamam de \u2018ideologia\u2019, de \u2018g\u00eanero\u2019\u201d, re\ufb02ete o historiador Murilo Cleto.<\/span><\/p>\n

O Brasil durante os anos Lula e principalmente durante a gest\u00e3o do chanceler Celso Amorim se tornou um player internacional que n\u00e3o poderia ser deixado de fora das rodas de negocia\u00e7\u00e3o. E apesar do esfor\u00e7o de Jos\u00e9 Serra, atual ministro de Rela\u00e7\u00f5es Exteriores, para destruir isso, muito do que \ufb01cou veio dessa \u00e9poca. Por isso as mudan\u00e7as aqui surtem efeito em outros pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina e afetam t\u00e3o fortemente o resto do continente.<\/span><\/p>\n

Antipol\u00edtica<\/span><\/p>\n

Apesar da frase de Leon Wieseltier, \u201cn\u00e3o h\u00e1 nenhuma an\u00e1lise econ\u00f4mica que possa abrandar a intoler\u00e2ncia\u201d, \u00e9 imposs\u00edvel n\u00e3o relacionar as duas coisas. A economia tem papel fundamental nesse fortalecimento conservador. Existe um forte teor de nega\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas neoliberais em v\u00e1rios pa\u00edses, mas com um vi\u00e9s conservador. Muitos atribuem a essa nega\u00e7\u00e3o o resultado da elei\u00e7\u00e3o na Inglaterra que descambou no Brexit. Ela se mistura a valores democr\u00e1ticos que n\u00e3o s\u00e3o compartilhados por alguns e a nega\u00e7\u00e3o da pol\u00edtica, esta com muitas facetas e particularidades e at\u00e9 complexos paradoxos como mostra o professor Avritzer: \u201cO Trump tem uma posi\u00e7\u00e3o pol\u00edtica sobre tudo, imigrantes, mulheres, prote\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica. O Trump n\u00e3o \u00e9 um conservador cl\u00e1ssico, pois ele mescla elementos do pensamento conservador de esquerda e de direita. Ele mescla um protecionismo econ\u00f4mico muito forte, que em geral j\u00e1 foi associado a um pensamento de esquerda, com uma vis\u00e3o de supremacia racial branca que sempre foi associada \u00e0 direita. Ele mescla essas duas coisas e na verdade n\u00e3o d\u00e1 pra dizer que ele \u00e9 antipol\u00edtico, ele \u00e9 fortemente pol\u00edtico\u201d, a\ufb01rma.<\/span><\/p>\n

Ao desquali\ufb01car a pol\u00edtica e transformar o \u201cfazer pol\u00edtica\u201d em vil\u00e3o, as pessoas que mais precisam do Estado passaram a repudi\u00e1-lo. No Brasil se formou uma mar\u00e9 antipol\u00edtica que abarcou em uma s\u00f3 voz o descontentamento das pessoas com uma s\u00e9rie de fatores econ\u00f4micos e sociais, que sempre foram de complexas solu\u00e7\u00f5es. Nesse momento se perdia o apoio da massa de pessoas das classes menos abastadas. Com a famosa foto da decep\u00e7\u00e3o de A\u00e9cio em seu apartamento nas elei\u00e7\u00f5es de 2014, come\u00e7ou o movimento que tornaria as vontades da elite brasileira em prioridade tamb\u00e9m para quem as deveria repudiar, que culminaria com o enorme apoio popular ao golpe contra a presidenta Dilma.<\/span><\/p>\n

A tentativa de surfar na vit\u00f3ria de Trump de demagogos como Bolsonaro e a fam\u00edlia Le Pen, na Fran\u00e7a, n\u00e3o \u00e9 um ato impensado. Com o crescimento e dissemina\u00e7\u00e3o dessas vontades toscas essas pessoas conseguem falar com mais gente. Conseguem ter acesso a ainda mais pessoas que negam a pol\u00edtica. Quantos de n\u00f3s n\u00e3o temos tios, primos e outros parentes, que at\u00e9 tr\u00eas, quatro anos atr\u00e1s n\u00e3o se importava com nada e hoje s\u00e3o aquele po\u00e7o de \u00f3dio em grupos de fam\u00edlia no WhatsApp. \u201cE com isso os buf\u00f5es, populistas e demagogos v\u00e3o ganhando espa\u00e7o e conquistando mentes e cora\u00e7\u00f5es. Todo suposto l\u00edder \u00e9 meio ex\u00f3tico, de um Berlusconi ao Le Pen, todos s\u00e3o meio histri\u00f4nicos pra se destacar. Os projetos coletivos \ufb01 cam obscurecidos e tem uma fragmenta\u00e7\u00e3o maior que exalta sempre o indiv\u00edduo e d\u00e1 margem ao aviltamento dos personalismos\u201d, acredita Chico Alencar.<\/span><\/p>\n

A chanceler alem\u00e3 Angela Merkel disse em entrevista recente que: \u201cA Alemanha e os EUA s\u00e3o conectados por valores de democracia, liberdade e respeito pela lei e dignidade do homem, independente de sua origem, cor da pele, religi\u00e3o, sexo, orienta\u00e7\u00e3o sexual ou vis\u00f5es pol\u00edticas. E tendo como base esses valores eu pretendo trabalhar pr\u00f3ximo ao presidente Trump\u201d. O fato da pr\u00f3pria direita mais neoliberal estar questionando e criticando o presidente eleito dos EUA \u00e9 um motivo de re\ufb02 ex\u00e3o. Seria apenas o fato de Trump ser um bronco? Ou suas ideias de protecionismo e antiglobaliza\u00e7\u00e3o estariam incomodando algo que afete a ordem mundial? Imposs\u00edvel n\u00e3o lembrar aqui das teorias da conspira\u00e7\u00e3o (que chamamos de teorias, pois faltam provas, mas na verdade s\u00e3o bem fact\u00edveis), que envolvem o Clube de Bilderberg e seus planos infal\u00edveis para implementar seus ideais neoliberais. Em que situa\u00e7\u00e3o estamos metidos nessa briga de cachorro grande e em que ponto a popula\u00e7\u00e3o se coloca para ir contra esses ideias neoliberais?<\/span><\/p>\n

Essas s\u00e3o perguntas que mesmo os especialistas gastar\u00e3o muito tempo tentando responder. \u201dQuem desdenha quer comprar o discurso da direita. \u00c9 ela, a direita, fazendo pol\u00edtica pra ela pr\u00f3pria usufruir\u201d, a\ufb01 rma Paulo Teixeira. Especula\u00e7\u00f5es \u00e0 parte, o fato \u00e9 que esse crescimento \u00e9 uma realidade. Ataques a escolas ocupadas se tornam not\u00edcia frequente, por exemplo. E as esquerdas se colocam na defensiva depois de um per\u00edodo de bonan\u00e7a. \u201c\u00c9 dif\u00edcil ter uma vis\u00e3o de m\u00e9dio prazo do que pode acontecer. Esses movimentos s\u00e3o sequ\u00eancia de um amplo momento hegem\u00f4nico da esquerda no Brasil. Evidentemente que essas derrotas (impeachment e elei\u00e7\u00f5es municipais), foram derrotas da esquerda como um todo e elas nos levam a pensar as diferentes propostas de esquerda e uma poss\u00edvel uni\u00e3o. A quest\u00e3o mais importante colocada hoje \u00e9 de diferentes grupos de esquerda n\u00e3o acharem que a derrota do PT vai imediatamente colocar \u00e1gua no seu moinho e eles v\u00e3o reconstruir imediatamente o mesmo tipo de hegemonia pol\u00edtica que o PT construiu de forma muito f\u00e1cil. Isso n\u00e3o acontecer\u00e1. No segundo turno do Rio isso \ufb01 cou muito claro: o quanto \u00e9 dif\u00edcil ter essa penetra\u00e7\u00e3o nos setores populares que o PT teve. O Freixo n\u00e3o conseguiu essa penetra\u00e7\u00e3o. \u00c9 importante entender que se a hegemonia petista levou a um conjunto de pr\u00e1ticas extremamente problem\u00e1ticas, ainda n\u00e3o existe outro modelo. Mas \u00e9 necess\u00e1rio que se crie um modelo alternativo que n\u00e3o coloque as for\u00e7as de esquerda uma contra a outra e possibilite um tipo de arranjo\u201d, a\ufb01rma o professor Avritzer.<\/span><\/p>\n

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