{"id":59960,"date":"2017-07-27T18:44:46","date_gmt":"2017-07-27T18:44:46","guid":{"rendered":"http:\/\/www.obeltrano.com.br\/?post_type=portfolio&p=59960"},"modified":"2017-07-31T17:00:02","modified_gmt":"2017-07-31T17:00:02","slug":"o-golpe-ainda-e-agora","status":"publish","type":"portfolio","link":"https:\/\/www.obeltrano.com.br\/portfolio\/o-golpe-ainda-e-agora\/","title":{"rendered":"“O GOLPE AINDA \u00c9 AGORA”"},"content":{"rendered":"
Exposi\u00e7\u00e3o \u201cDesconstru\u00e7\u00e3o do Esquecimento\u201d remonta \u00e0 ditadura militar e faz paralelo com os dias atuais<\/p>\n
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Por Lucas Sim\u00f5es<\/em><\/span><\/p>\nFoto Cyro Almeida\/ Divulga\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n
“Eu poderia citar o Amarildo, o Rafael Braga, o massacre do Carandiru, os \u00edndios Gamela recentemente no Maranh\u00e3o. E muito mais. S\u00e3o casos de uma perman\u00eancia de conduta, mentalidade e pr\u00e1tica dominante das for\u00e7as de defesa que julgam, perseguem, encarceram, torturam e matam, quase sempre, a popula\u00e7\u00e3o pobre e negra deste pa\u00eds. Um ran\u00e7o n\u00edtido da ditadura, que as gera\u00e7\u00f5es mais jovens desconhecem, mas que vem sofrendo muta\u00e7\u00f5es sist\u00eamicas e se alastra at\u00e9 hoje. O golpe ainda \u00e9 agora”. \u00c9 com esse paralelo entre as violentas congru\u00eancias de passado e presente que a soci\u00f3loga Silvana Coser define o papel da exposi\u00e7\u00e3o “Desconstru\u00e7\u00e3o do Esquecimento: Golpe, Anistia e Justi\u00e7a de Transi\u00e7\u00e3o”, aberta apenas at\u00e9 a pr\u00f3xima segunda-feira (31\/07), no Centro Cultural da UFMG (avenida Santos Dumont, 174, pr\u00f3ximo da Pra\u00e7a da Esta\u00e7\u00e3o).<\/span><\/p>\n
A mostra faz parte do aguardado Memorial da Anistia do Brasil, projeto que cria um museu in\u00e9dito sobre a ditadura militar no pa\u00eds, com sede f\u00edsica em Belo Horizonte, mas atualmente com obras paralisadas pelo Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a. “N\u00f3s n\u00e3o temos a pr\u00e1tica cotidiana de preservar a mem\u00f3ria. Chile e Argentina t\u00eam um acervo hist\u00f3rico f\u00edsico, acess\u00edvel a moradores e turistas, para reconhecer publicamente a viol\u00eancia do Estado e nunca esquec\u00ea-la. Faz parte da constru\u00e7\u00e3o da mem\u00f3ria do sujeito. No Brasil, isso n\u00e3o existe”, critica Silvana.<\/span><\/p>\nFoto Cyro Almeida\/ Divulga\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n
Em um trabalho did\u00e1tico com fotos, v\u00eddeos e muitos depoimentos, a exposi\u00e7\u00e3o transformou o Centro Cultural da UFMG por completo, ocupando cinco salas da galeria Aretuza Moura, o p\u00e1tio interno e o segundo andar. Grandes estruturas de andaimes, ilumina\u00e7\u00e3o obscura e fotos emblem\u00e1ticas penduradas em ganchos de a\u00e7ougue s\u00e3o parte da t\u00f4nica impactante sobre os anos de chumbo.<\/span><\/p>\n
Mas a exposi\u00e7\u00e3o vai al\u00e9m de uma bem montada linha hist\u00f3rica a partir de 1964, marco do golpe civil-militar, at\u00e9 1985, in\u00edcio da redemocratiza\u00e7\u00e3o. Entre as dezenas de pe\u00e7as e objetos expostos, as pesquisas realizadas pelo Projeto Rep\u00fablica, vinculado \u00e0 Fafich, e do Centro de Estudos sobre Justi\u00e7a e Transi\u00e7\u00e3o, da Faculdade de Direito, garimparam peda\u00e7os at\u00e9 ent\u00e3o pouco ou nada conhecidos da hist\u00f3ria. E que dizem muito sobre cicatrizes ainda abertas.<\/span><\/p>\n
\u00c9 o caso dos bordados de Isaura Botelho, vi\u00fava de Honestinho Guimar\u00e3es, presidente da UNE, desparecido em 1973 e que nunca teve seu corpo encontrado. Esta \u00e9 a primeira vez que dois bordados dela ser\u00e3o expostos ao p\u00fablico, ap\u00f3s Silvana Coser descobrir seu trabalho. “N\u00f3s n\u00e3o conhec\u00edamos a arte da Isaura. Eu vi em um livro um depoimento curto dela e fui atr\u00e1s. Ela fala muito que o borado \u00e9 a forma que ela encontrou de lidar com a perda, a ruptura, tudo. \u00c9 o meio que ela usa para denunciar tamb\u00e9m. Por que borda os nomes dos mortos com corpos nunca encontrados”, diz Silvana.<\/span><\/p>\n
Tamb\u00e9m in\u00e9ditas s\u00e3o as “bonecas de tortura” exibidas pela designer gr\u00e1fica Camila Sipahi, filha de um casal de militantes da A\u00e7\u00e3o Popular (AP) perseguidos e torturados at\u00e9 a morte, na d\u00e9cada de 1970. “A Camila participou durante uma \u00e9poca do projeto Cl\u00ednica do Testemunho, do Governo Federal, que est\u00e1 suspenso atualmente. Ela ensinava outras pessoas afetadas pela ditadura, como ela, a fazer bonecas de pano. Tem uma liga\u00e7\u00e3o forte na inf\u00e2ncia dela porque a m\u00e3e fez uma boneca de pano para ela, ainda da pris\u00e3o. Ent\u00e3o, a Camila explicita cenas de tortura a partir das bonecas. \u00c9 muito chocante”, diz Silvana.<\/span><\/p>\nFoto Cyro Almeida\/ Divulga\u00e7\u00e3<\/figcaption><\/figure>\n
T\u00e3o chocante quanto a escultura do professor Fabr\u00edcio Fernandino, um dos curadores da mostra, e que desenvolveu uma obra em formato de quatro torres de a\u00e7o galvanizado que representam os quatro estudantes da UFMG assassinados durante a ditadura militar: Walk\u00edria Afonso Costa, Gildo Macedo Laerda, Idal\u00edsio Soares Aranha Filho e Jos\u00e9 Carlos Novaes Mata Machado. Este \u00faltimo, \u00fanico com o corpo encontrado. A escultura n\u00e3o s\u00f3 reverencia a mem\u00f3ria dos jovens mortos, mas abre uma intercess\u00e3o com os dias de hoje, segundo Silvana Coser.<\/span><\/p>\n
“Essa escultura \u00e9 especial porque representa uma dor muito pr\u00f3xima aos mineiros. E \u00e9 assustador como ela nos lembra que aquele tempo de persegui\u00e7\u00e3o e morte de estudantes dialoga diretamente com o nosso hoje. Essa escultura \u00e9 hoje tamb\u00e9m. No fim da exposi\u00e7\u00e3o, temos uma proje\u00e7\u00e3o com os escrachos da pol\u00edcia contra alunos da UFMG, em protestos recentes. S\u00f3 que, quando voc\u00ea olha de primeira, parecem imagens da ditadura, mas n\u00e3o s\u00e3o. \u00c9 o que as pessoas t\u00eam que ver: esse choque, esse ran\u00e7o que, infelizmente, n\u00e3o perdemos ainda”, completa Silvana.<\/span><\/p>\nFoto Cyro Almeida\/ Divulga\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n
A exposi\u00e7\u00e3o ainda re\u00fane, na sala Celso Renato, no segundo andar do Centro Cultural da UFMG, diversas obras, todas in\u00e9ditas, de oito artistas convidados: Cl\u00e9bio Maduro, Eder Santos, Eust\u00e1quio Neves, Jorge dos Anjos, Marco T\u00falio Resene, M\u00e1rio Zavagli, Maur\u00edcio Gino e Shirley Paes Leme. Todas as obras e objetos reunidos para a mostra ser\u00e3o doados ao futuro Memorial da Anistia.<\/span><\/p>\n
Memorial da Anistia<\/span><\/strong><\/p>\n
Resultado de uma parceria entre o Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a e a UFMG ainda em 2009, com or\u00e7amento inicial previsto de R$ 25,6 milh\u00f5es, at\u00e9 hoje o Memorial da Anistia do Brasil n\u00e3o teve as obras terminadas. A edifica\u00e7\u00e3o, datada do in\u00edcio do s\u00e9culo 20, \u00e9 conhecida como “Coleginho”, onde funcionou o Gin\u00e1sio Aplica\u00e7\u00e3o, col\u00e9gio de primeiro grau da universidade, na rua Carangola, bairro Santo Ant\u00f4nio.<\/span><\/p>\nFoto Cyro Almeida\/ Divulga\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n
A inaugura\u00e7\u00e3o do Memorial foi adiada diversas vezes: inicialmente, ficaria pronto em 2010. Depois, teve mais tr\u00eas datas remarcadas: outubro de 2013, junho de 2014 e dezembro de 2015. No ano passado, o Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a paralisou as obras, sem previs\u00e3o de retorno. “A obra est\u00e1 avan\u00e7ada. J\u00e1 existem elevadores instalados e tudo. Mas a edifica\u00e7\u00e3o do Coleginho continua escorada e n\u00e3o temos perspectiva de retomada dos trabalhos. Depende do Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a. Na pra\u00e7a p\u00fablica que o projeto prev\u00ea, em frente ao Memorial, com uma bela homenagem aos mortos em formato de rio, s\u00f3 foi come\u00e7ada a terraplanagem. H\u00e1 muito trabalho ali”, diz Silvana.<\/span><\/p>\n
A exposi\u00e7\u00e3o “Desconstru\u00e7\u00e3o do Esquecimento: Golpe, Anistia e Justi\u00e7a de Transi\u00e7\u00e3o” pode ser visitada gratuitamente at\u00e9 a pr\u00f3xima segunda-feira, 31 de julho. Nos dias de semana, a visita\u00e7\u00e3o acontece de 10h \u00e0s 19h. No s\u00e1bado, o hor\u00e1rio \u00e9 de 10h \u00e0s 13h. Excepcionalmente no domingo n\u00e3o h\u00e1 abertura da exposi\u00e7\u00e3o. \n<\/span><\/p>\n
Pedido de prorroga\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n
Um ato marcado para esta sexta -feira, 11h, na frente do Centro Cultural da UFMG pedir\u00e1\u00a0a prorroga\u00e7\u00e3o do per\u00edodo da exposi\u00e7\u00e3o. \nVeja abaixo o texto do abaixo-assinado.<\/span><\/p>\n
\u201cPrezados<\/span><\/p>\n
Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Professor Jaime Arturo Ramirez<\/span><\/p>\n
Diretora da A\u00e7\u00e3o Cultural da UFMG, professora Leda Martins<\/span><\/p>\n
Diretor do Centro Cultural da UFMG, Professor Rodrigo Vivas.<\/span><\/p>\n
N\u00f3s professores da UFMG, convictos do valor da primorosa exposi\u00e7\u00e3o “Desconstru\u00e7\u00e3o do Esquecimento” para a forma\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica e democr\u00e1tica dos alunos e professores da UFMG e da sociedade em geral, vimos por meio desta solicitar a amplia\u00e7\u00e3o do per\u00edodo de funcionamento da exposi\u00e7\u00e3o durante o per\u00edodo letivo de 2017.<\/span><\/p>\n
Como sabem, a montagem da exposi\u00e7\u00e3o dependeu de um alto investimento de recursos p\u00fablicos e do trabalho de dezenas de professores e alunos da UFMG, investimento este reconhecido pela comunidade acad\u00eamica brasileira e pelos meios de comunica\u00e7\u00e3o que deram cobertura \u00e0 exposi\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n
Sabemos que o calend\u00e1rio do Centro \u00e9 organizado com anteced\u00eancia e ajustado com os parceiros. Mas, no presente caso, em que, mais uma vez, as for\u00e7as mais reacion\u00e1rias amea\u00e7am aprofundar o Estado de Exce\u00e7\u00e3o em que, segundo v\u00e1rios juristas, j\u00e1 nos encontramos, achamos tamb\u00e9m que \u00e9 plenamente justific\u00e1vel recaptuar com estes parceiros um novo calend\u00e1rio de ocupa\u00e7\u00e3o do espa\u00e7o, inclusive para que possamos investir na desconstru\u00e7\u00e3o do esquecimento que autoriza o arb\u00edtrio.<\/span><\/p>\n
Certos de podemos contar com a aten\u00e7\u00e3o e solidariedade dos colegas, enviarmos cordiais sauda\u00e7\u00f5es.\u201d<\/span><\/p>\n
<\/p>\n
Atualizada na quinta-feira \u00e0s 16:16<\/span><\/em>[\/vc_column_text][\/vc_column][\/vc_row][vc_row][vc_column width=”1\/1″][vc_empty_space empty_h=”2″][vc_raw_html]JTNDZGl2JTIwY2xhc3MlM0QlMjJmYi1jb21tZW50cyUyMiUyMGRhdGEtaHJlZiUzRCUyMmh0dHAlM0ElMkYlMkZ3d3cub2JlbHRyYW5vLmNvbS5iciUyRnBvcnRmb2xpbyUyRm8tZ29scGUtYWluZGEtZS1hZ29yYSUyRiUyMiUzRSUzQyUyRmRpdiUzRQ==[\/vc_raw_html][\/vc_column][\/vc_row]<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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