{"id":67977,"date":"2018-04-10T13:03:53","date_gmt":"2018-04-10T13:03:53","guid":{"rendered":"http:\/\/www.obeltrano.com.br\/?post_type=portfolio&p=67977"},"modified":"2018-04-24T18:04:07","modified_gmt":"2018-04-24T18:04:07","slug":"dops-vira-casa-da-liberdade","status":"publish","type":"portfolio","link":"https:\/\/www.obeltrano.com.br\/portfolio\/dops-vira-casa-da-liberdade\/","title":{"rendered":"Dops vira Casa da Liberdade"},"content":{"rendered":"

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Dops vira Casa da Liberdade<\/h1>\n

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Fernando Pimentel lan\u00e7a projeto que transformar\u00e1 o antigo centro de tortura em memorial de direitos humanos<\/p>\n

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Por Lucas Sim\u00f5es<\/span><\/em><\/p>\n

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Foto: Lucas Sim\u00f5es<\/figcaption><\/figure>\n

Fazendo aberto rep\u00fadio \u00e0 pris\u00e3o de Lula, o governador Fernando Pimentel (PT) apresentou nesta segunda-feira (09\/04), em cerim\u00f4nia nos jardins do Pal\u00e1cio da Liberdade, o projeto do Memorial Direitos Humanos – Casa da Liberdade. O memorial, que tem previs\u00e3o de t\u00e9rmino das obras at\u00e9 o fim do ano, transformar\u00e1 o pr\u00e9dio que abrigou o antigo Departamento de Ordem Pol\u00edtica e Social (Dops) – principal centro de pris\u00e3o pol\u00edtica e de tortura em Belo Horizonte durante a ditadura militar -, na avenida Afonso Pena, em um museu com car\u00e1ter de preserva\u00e7\u00e3o da mem\u00f3ria da resist\u00eancia pol\u00edtica ao regime de 64 e de rep\u00fadio \u00e0s pr\u00e1ticas antidemocr\u00e1ticas.<\/span><\/p>\n

Antes de apresentar o museu, Pimentel, que foi preso pol\u00edtico no Dops de Belo Horizonte entre abril e outubro de 1973 (ele foi preso no Rio Grande do Sul e, mais tarde, transferido para BH, num total de pouco mais de tr\u00eas anos de encarceramento), disse que o antigo Dops ser\u00e1 transformado em um espa\u00e7o de mem\u00f3ria pedag\u00f3gica sobre a ditadura, mas tamb\u00e9m em um lugar de resist\u00eancia e organiza\u00e7\u00e3o pol\u00edtica em favor da democracia. Ao repudiar a pris\u00e3o de Lula e condenar o que chamou de \u201cescalada do fascismo\u201d, o governador provocou gritos da plateia de \u201cLula Livre\u201d.<\/span><\/p>\n

\u201cOs eventos s\u00e3o abundantes. Eu posso citar a agress\u00e3o que sofreu a nossa Universidade Federal de Minas Gerais, com a condu\u00e7\u00e3o abusiva do reitor Jaime Ramirez e de professores. Isso se sucedendo ao mesmo fato que tinha acontecido em Santa Catarina, que levou a morte e suic\u00eddio do reitor (Luiz Carlos) Cancellier, e at\u00e9 hoje n\u00e3o apuraram nada contra ele porque nada havia para ser apurado. \u00c9 a escalada do fascismo, que vem galopando em cima do povo brasileiro. A isso se segue no Rio o assassinato da vereadora Marielle, depois tiros atirados contra a caravana do presidente Lula. E agora, culminando com essa pris\u00e3o absurdamente ilegal, fruto de uma senten\u00e7a jur\u00eddica fr\u00e1gil e equivocada, de um processo eivado de irregularidades\u201d, disse Pimentel.<\/span><\/p>\n

Apesar de o governo n\u00e3o revelar o montante investido nas obras, o museu Casa da Liberdade contar\u00e1 com recursos do BDMG Cultural e do Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos \u2014 este \u00faltimo, destinado a reparar danos provocados pelo meio ambiente, al\u00e9m de bens e direitos de valor hist\u00f3rico, art\u00edstico e tur\u00edstico. A expectativa \u00e9 que as obras sejam conclu\u00eddas no fim do ano, segundo o secret\u00e1rio em exerc\u00edcio de Estado de Direitos Humanos, Participa\u00e7\u00e3o Social e Cidadania (Sedpac), Gabriel Rocha. \u201cHaver\u00e1 uma pequena reforma estrutural e a implanta\u00e7\u00e3o do museu. A partir de agora, j\u00e1 tem a ordem de servi\u00e7o, e estamos s\u00f3 elaborando os documentos necess\u00e1rios para iniciar imediatamente a obra\u201d, disse o secret\u00e1rio.<\/span><\/p>\n

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Foto: Lucas Sim\u00f5es<\/figcaption><\/figure>\n

O terror do Dops<\/span><\/strong><\/p>\n

O pr\u00e9dio do antigo Departamento de Ordem Pol\u00edtica e Social de Minas Gerais (Dops-MG) foi constru\u00eddo ainda em 1948 e transformado em centro de pris\u00e3o, tortura e assassinato de presos pol\u00edticos a partir de 1964. Nos anos 1920, outra constru\u00e7\u00e3o, no mesmo local, tamb\u00e9m funcionou como delegacia de pol\u00edcia.<\/span><\/p>\n

O edif\u00edcio foi tombado pela Prefeitura em 2013 e, posteriormente, pelo Instituto Estadual de Patrim\u00f4nio Hist\u00f3rico e Art\u00edstico de Minas Gerais (Iepha-MG), em 2015. Antes da desativa\u00e7\u00e3o para a constru\u00e7\u00e3o do museu, por\u00e9m, o edif\u00edcio abrigou o Departamento de Investiga\u00e7\u00e3o AntiDrogas (Narc\u00f3ticos) da Pol\u00edcia Civil, mantendo, at\u00e9 hoje, com a placa da delegacia ainda afixada em sua fachada, a imagem repressora do sistema policial.<\/span><\/p>\n

\u201cAcho que quanto mais demora e passa o tempo, mais fica na cabe\u00e7a da gente a imagem da tortura. Eu fui presa por denunciar que colegas eram torturados. Sempre que passo na frente do antigo Dops, que at\u00e9 hoje \u00e9 uma delegacia, mesmo que desativada, vem alguma coisa na mem\u00f3ria. Nem sempre \u00e9 lembran\u00e7a de choque el\u00e9trico e pau de arara, porque eu fui v\u00edtima disso. \u00c0s vezes \u00e9 uma dor que a gente nem sabe que tinha. Por isso, mudar aquele lugar, transformar aquilo tudo em espa\u00e7o de conviv\u00eancia para a juventude que vier refletir sobre ontem e hoje, \u00e9 um al\u00edvio para quem foi v\u00edtima da ditadura\u201d, disse Emely Vieira Salazar, 74, torturada em 1973.<\/span><\/p>\n

Parte do arquivo do Dops referente \u00e0 ditadura, hoje sob resguardo do Arquivo P\u00fablico Mineiro, poder\u00e1 ser acessada pelo p\u00fablico na Casa da Liberdade. Ao todo, s\u00e3o nada menos do que 924 fichas de policiais que colaboraram com os anos de chumbo e 98 rolos de microfilmes contendo um rico acervo que vai desde correspond\u00eancias da pol\u00edcia, prontu\u00e1rios de presos pol\u00edticos, ordens de servi\u00e7o, atestados de antecedentes pol\u00edtico-sociais de presos, at\u00e9 folhetos e livros apreendidos pela pol\u00edcia por serem considerados \u201csubversivos \u00e0 ordem\u201d.<\/span><\/p>\n

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Foto: Marcelo Sant’Anna<\/figcaption><\/figure>\n

Estrutura<\/span><\/strong><\/p>\n

Com projeto arquitet\u00f4nico elaborado por Gringo Cardia e pesquisa hist\u00f3rica liderada por Helo\u00edsa Starling, coordenadora do Projeto Rep\u00fablica, do Departamento de Hist\u00f3ria da UFMG, a Casa da Liberdade ser\u00e1 um museu interativo e futurista \u2014 ainda que o estilo arquitet\u00f4nico do edif\u00edcio, modernista da d\u00e9cada de 1940, seja preservado por fora da constru\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n

L\u00e1 dentro, o p\u00fablico poder\u00e1 acessar arquivos hist\u00f3ricos do per\u00edodo do Estado Novo (1930-1945) e da ditadura civil-militar (1964-1985), e tamb\u00e9m produzir conte\u00fado, gravando v\u00eddeos com depoimentos e leituras. \u201cA ideia \u00e9 reunir depoimentos das pessoas que visitarem o museu e que eles possam estar sempre mudando, se atualizando ali, logo na entrada do museu. Toda a perspectiva \u00e9 de muita interatividade e baseada em videografismos\u201d, disse Gringo Cardia. \u201c<\/span><\/p>\n

Com sete eixos que perpassam as tem\u00e1ticas de mem\u00f3ria, insurg\u00eancia, autogoverno, direitos, tirania e visibilidade, a Casa da Liberdade abrigar\u00e1 uma reprodu\u00e7\u00e3o digital de uma sala original do Dops, agregada a reprodu\u00e7\u00f5es em v\u00eddeo das hist\u00f3rias individuais de cada pessoa presa ali, como a de Nilc\u00e9a Moraleida Bernardes, 61 anos, torturada por mais de 60 dias, entre os anos de 1971 e 1974.<\/span><\/p>\n

\u201cO sentimento daquele lugar \u00e9, sem d\u00favida, de terror. E, 50 anos depois, passar na avenida Afonso Pena e olh\u00e1-lo de fora ainda \u00e9 aterrorizante. Transformar o pr\u00e9dio, dar outro significado, inclusive e principalmente que garanta a mem\u00f3ria dos mortos e torturados ali, \u00e9 fundamental\u201d, diz Nilc\u00e9a.<\/span><\/p>\n

No atual estacionamento do antigo Dops, haver\u00e1 ainda um caf\u00e9 e uma pra\u00e7a de conviv\u00eancia nomeada como \u00c1gora, em refer\u00eancia ao espa\u00e7o de debate pol\u00edtico e democr\u00e1tico da Gr\u00e9cia Antiga. No local, ser\u00e1 instalado um tel\u00e3o para divulgar atividades do museu e realiza\u00e7\u00e3o de eventos relacionados a discuss\u00f5es sobre a democracia. Al\u00e9m disso, a Casa da Liberdade vai abrigar salas tem\u00e1ticas, como a Sala da Intoler\u00e2ncia, que pretende provocar o p\u00fablico sobre preconceitos e crimes, a exemplo de manifesta\u00e7\u00f5es de racismo e LGBTfobia.<\/span><\/p>\n

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