{"id":70280,"date":"2019-03-31T01:41:58","date_gmt":"2019-03-31T01:41:58","guid":{"rendered":"https:\/\/www.obeltrano.com.br\/?post_type=portfolio&p=70280"},"modified":"2019-04-03T19:19:56","modified_gmt":"2019-04-03T19:19:56","slug":"aquele-31-de-marco","status":"publish","type":"portfolio","link":"https:\/\/www.obeltrano.com.br\/portfolio\/aquele-31-de-marco\/","title":{"rendered":"Aquele 31 de Mar\u00e7o"},"content":{"rendered":"

[vc_row][vc_column width=”1\/1″][vc_single_image media=”70371″ caption=”yes” media_lightbox=”yes” media_poster=”yes” media_width_percent=”100″][vc_empty_space empty_h=”1″][vc_custom_heading heading_semantic=”p” text_size=”” text_color=”color-jevc” sub_reduced=”yes”]<\/p>\n

Aquele 31 de Mar\u00e7o<\/h1>\n

[\/vc_custom_heading][vc_custom_heading heading_semantic=”h4″ text_size=”h4″ text_italic=”yes” text_color=”color-jevc” sub_reduced=”yes”]Alberto Villas[\/vc_custom_heading][vc_column_text]Est\u00e1vamos nos despedindo de Bras\u00edlia naquele 31 de mar\u00e7o de 1964. Meu pai, minha m\u00e3e, meus quatro irm\u00e3os e um cachorro vira-lata chamado Tupi.<\/span><\/p>\n

Depois de dois anos instalando o Servi\u00e7o de Meteorologia no planalto central do pa\u00eds, o meu pai estava de volta a Minas Gerais, mais precisamente Belo Horizonte.<\/span><\/p>\n

Ele gostava de pegar a estrada cedo, no in\u00edcio da madrugada. No final da noite, ele preparou a Rural Willys vermelha e branca e colocou dentro dela, todas as coisas que ainda restavam no nosso apartamento.<\/span><\/p>\n

Duas da madrugada, partimos. Ao passar na Esplanada dos Minist\u00e9rios, minha m\u00e3e avistou um senhor de terno caminhando na grama verde da cidade, levando consigo uma pasta 007.<\/span><\/p>\n

O meu pai diminui a velocidade, foi quase parando quando identificou Jos\u00e9 Erm\u00edrio de Morais, o ministro da Agricultura, seu chefe. Parou de vez. Ofereceu carona e o ministro aceitou.<\/span><\/p>\n

Minha m\u00e3e pulou pra parte de tr\u00e1s da Rural e se juntou aos cinco meninos e ao cachorro, j\u00e1 meio espremidos naquele banco de couro vermelho.<\/span><\/p>\n

Foram poucas palavras, at\u00e9 o meu pai deixar o ministro na sua superquadra. Havia uma tens\u00e3o no ar. O ministro cochichou com o meu pai durante o trajeto e ele evitou espalhar a not\u00edcia ali dentro daquela Rural.<\/span><\/p>\n

S\u00f3 ficamos sabendo quando Jos\u00e9 Erm\u00edrio de Morais desapareceu, subindo as escadas do seu pr\u00e9dio de pilotis.<\/span><\/p>\n

– Jango caiu!<\/span><\/p>\n

Foi o que o meu pai nos disse naquela madrugada, estrada afora. Rodamos uns cem quil\u00f4metros e l\u00e1 longe, minha m\u00e3e avistou um comboio de caminh\u00f5es e tanques verde-oliva. Vinham no cantinho, quase no acostamento, devagar e sempre e no sentido contr\u00e1rio, rumo a capital federal.<\/span><\/p>\n

Passamos por eles em sil\u00eancio e assustados, seguimos viagem. No primeiro posto que o meu pai parou, o frentista deu mais not\u00edcias, avisando que certamente n\u00e3o ter\u00edamos gasolina suficiente para chegar a Belo Horizonte, porque os postos estavam fechando.<\/span><\/p>\n

Medo.<\/span><\/p>\n

\"\"O meu pai tinha um gal\u00e3o de gasolina no bagageiro, 677 quil\u00f4metros \u00e0 frente e doze horas de viagem. Acabamos \u00a0chegando em casa.<\/span><\/p>\n

O Rep\u00f3rter Esso estava dando edi\u00e7\u00f5es extraordin\u00e1rias a todo momento e o meu pai pedia sil\u00eancio cada vez que entrava a m\u00fasica do telejornal.<\/span><\/p>\n

Tinha eu 14 anos de idade, quando essa noite que durou vinte e um anos come\u00e7ou. Foram muitas noites mal dormidas revirando na cama, muitos pesadelos assustadores e sonhos de, algum dia, recuperar a liberdade.<\/span><\/p>\n

 <\/p>\n

 <\/p>\n

Alberto Villas \u00e9 jornalista e escritor. Tem nove livros publicados e atualmente \u00e9 cronista da Carta Capital, comentarista do blog Nocaute, de Fernando Morais e piloto do blog VillasNews. Morou em Paris nos anos 1970 e teve 68 reportagens escritas para o jornal Movimento, proibidas pela censura durante o regime militar.<\/span><\/p><\/blockquote>\n

[\/vc_column_text][\/vc_column][\/vc_row][vc_row][vc_column width=”2\/4″][vc_raw_html]JTNDZGl2JTIwY2xhc3MlM0QlMjJmYi1jb21tZW50cyUyMiUyMGRhdGEtaHJlZiUzRCUyMmh0dHBzJTNBJTJGJTJGd3d3Lm9iZWx0cmFuby5jb20uYnIlMkZwb3J0Zm9saW8lMkZhcXVlbGUtMzEtZGUtbWFyY28lMkYlMjIlM0UlM0MlMkZkaXYlM0U=[\/vc_raw_html][\/vc_column][vc_column width=”1\/4″][vc_column_text]Leia mais da s\u00e9rie Ditadura Nunca Mais, de O Beltrano<\/span><\/strong><\/p>\n